24 novembro, 2006

Após fusão, Submarino volta a olhar mercado externo

(Reuters) - Os dois principais sites de comércio eletrônico do país, Americanas.com e Submarino, anunciaram na quinta-feira a fusão de suas operações. Com o negócio, a nova empresa busca enfrentar rivais gigantes como Wal-Mart, além de estudar uma expansão internacional.

"O varejo eletrônico é só um por cento do varejo total. Nos Estados Unidos, 8 por cento. Queremos conseguir competir com as grandes multinacionais de varejo", disse o diretor financeiro do Submarino, Martin Escobari, citando empresas como Wal-Mart.

O executivo explicou que a nova empresa, criada a partir da fusão, pode nos próximos cinco anos estender a operação para fora do Brasil. A ação seria um retorno do Submarino ao varejo internacional depois de ter vendido suas representações no México, Argentina, Espanha e Portugal em 2000.

"Por enquanto, estamos focados em consolidar nossas operações no Brasil. Mas vemos uma grande oportunidade no exterior agora", afirmou Escobari em entrevista por telefone. Ele evitou enumerar potenciais mercados para a nova empresa, citando Índia e México como países que apresentam condições favoráveis para o comércio eletrônico.

Ele ressaltou, entretanto, que ainda não há definição sobre quais mercados a nova empresa pretende atuar.

O executivo disse que as empresas manterão suas marcas e continuarão a operar separadas.

A fusão --que deve ser concluída até o final do ano, de acordo com as empresas-- cria a B2W Companhia Global de Varejo, que terá 53,25 por cento do capital social total e votante nas mãos das Lojas Americanas, controladora da Americanas.com. O restante ficará com os acionistas do Submarino, a quem a empresa fará proposta de distribuição de até meio bilhão de reais em dividendos.

"A operação é positiva para as empresas por conta das sinergias que vão desde produtos, logística e poder de negociação junto a fornecedores", disse um analista de um grande banco que acompanha as ações do Submarino e pediu para não ser identificado.

Na avaliação dele, a meta dos controladores das Lojas Americanas será a venda das ações pois são investidores financeiros.

"Creio que o objetivo final seria pulverizar o capital das Lojas Americanas mais para frente, talvez já no próximo ano... Eles (controladores) estão fazendo de tudo para que o mercado perceba as Lojas Americanas da melhor maneira possível."

No início dos negócios, após suspensão na abertura do pregão na bolsa paulista, as ações do Submarino chegaram a disparar 23 por cento, enquanto as das Lojas Americanas subiram 6,4 por cento. As ordinárias, menos negociadas, saltaram mais de 4 por cento.

Os papéis do Submarino encerraram o dia com ganho de 15,81 por cento, cotados a 60,80 reais, e com o maior volume financeiro da bolsa, de 276,5 milhões de reais, cerca do dobro do giro de Petrobras, tradicionalmente a mais negociada.

Já as preferenciais das Lojas Americanas caíram 8,26 por cento, para 100 reais, e ficaram em quarto lugar no ranking dos títulos mais procurados. As ordinárias da varejista, contudo, perderam 2,03 por cento, a 96,01 reais. O referencial Ibovespa avançou 0,4 por cento.

O acordo é o mais recente a mostrar a força dos bilionários Jorge Paulo Leman, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, grupo de investidores que controla as Lojas Americanas. Eles são fundadores da GP Investimentos, que esteve envolvida na criação do Submarino.

O trio também envolveu-se em uma série de fusões e aquisições no Brasil, incluindo a venda do banco de investimento Garantia ao Credit Suisse, em 1998, e a criação da maior cervejaria do mundo InBev, a partir da união da nacional AmBev com a belga Interbrew, em 2004.

SINERGIAS

As empresas previram que a fusão gerará sinergias de aproximadamente 800 milhões de reais, colocando a nova companhia em posição de disputar o mercado de varejo brasileiro avaliado em mais de 200 bilhões de reais.

Dos cerca de 1,6 bilhão de reais de faturamento conjunto de janeiro a setembro, 563 milhões são relativos ao Submarino e o restante à Americanas.com.

O diretor de estratégia da empresa de análise de mercado E-Consulting, Daniel Domeneguetti, acredita que a fusão possibilita um melhor aproveitamento do consumidor "off line" em um momento de crescimento orgânico da Internet brasileira.

"O objetivo deles é o consumidor off line. Eles querem explorar o mercado de 200 bilhões de reais, não de 5 bilhões", afirmou, acrescentando que de cada venda na Internet existem quatro outras feitas no mundo físico e que partiram da Web. "Eles estão preferindo ser peixe-espada em oceano do que tubarão em lagoa."

DIVIDENDOS

A fusão precisa ser apreciada pelos acionistas do Submarino. Os das Lojas Americanas já aprovaram.

Os administradores do Submarino vão submeter uma proposta a seus acionistas de redução de capital e distribuição de dividendos de até 500 milhões de reais. Após a conclusão do acordo, as Lojas Americanas farão um aumento de capital da Americanas.com de pelo menos 175 milhões de reais.

O Submarino, que estreou na Bovespa em março de 2005, mais que dobrou seu lucro líquido no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, para 17,5 milhões de reais. A companhia teve no período um total de 1,7 milhão de clientes.

A Americanas.com surgiu em 1999 e afirma possuir cerca de 6 milhões de clientes. O número inclui operações do canal de TV Shoptime, do grupo Lojas Americanas que, por sua vez, tem cerca de 220 lojas no país.

Segundo a empresa de pesquisa e-bit, as vendas online no Brasil somaram nos primeiros seis meses do ano 1,75 bilhão de reais, aumento de 80 por cento frente aos 974 milhões de reais na primeira metade de 2005. A expectativa é de que o setor obtenha faturamento de 4 bilhões de reais em 2006.

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