29 outubro, 2006

Empresas de tecnologia crescem, mas cobram mais incentivos

Redução de impostos, aumento no número de empregos e a criação de um parque tecnológico – que deve ser inaugurado no ano que vem e já atraiu interessados de respeito – estão animando o setor de Tecnologia de Informação e Comunicações (TIC) de Curitiba. Mas, embora representantes do poder público comemorem os bons resultados, empresários e profissionais da área levantam dúvidas sobre a eficiência das políticas de atração da capital paranaense – e questionam se o crescimento do setor será suficiente para que a cidade desponte como um pólo de tecnologia. As empresas de TIC criaram, no ano passado, 5.677 novos postos de trabalho em Curitiba, com crescimento de 87,5% sobre 2004. O resultado é comemorado pela Curitiba S.A., empresa mista vinculada à prefeitura, que atribui o desempenho ao que chama de redesenho da política municipal de atração de empresas de base tecnológica. A estratégia foi reduzir de 5% para 2% a alíquota do Imposto Sobre Serviços (ISS) para empresas de tecnologia da informação e call centers.
Além disso, a Curitiba S.A. prepara para 2007 a inauguração de um parque tecnológico que será instalado na vizinhança da sede da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), no bairro Jardim Botânico, e dará outros incentivos às empresas de TIC, em parceria com a iniciativa privada. O primeiro passo para o chamado Tecnoparque já foi dado. A Curitiba S.A. ajudou a trazer para a cidade o centro de desenvolvimento do HSBC, que será responsável pelos softwares usados pelo banco em todo o mundo e vai concorrer com unidades semelhantes já instalados na Índia e na China. O centro do HSBC, provisoriamente instalado em um edifício comercial na região central de Curitiba, já tem 100 funcionários, e a previsão é chegar a 3,5 mil empregados até 2008. Apesar da perspectiva positiva, profissionais que trabalham no desenvolvimento de novas tecnologias reclamam da falta de uma política de longo prazo. “Como Curitiba pode ser firmar como pólo se não oferece o mesmo apoio de outras administrações?” pergunta Hans Schorer, presidente do Centro Internacional de Tecnologia de Software (Cits), organização sem fins lucrativos que trabalha com pesquisa e desenvolvimento (leia mais acima). “Sentimos falta de uma política definida, que pense no desenvolvimento de tecnologia como outros países fazem. Coréia do Sul, China, Irlanda e Espanha colhem hoje os frutos de investimentos que começaram há 15 anos”, diz Silvestre Labiak Júnior, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e presidente da Rede Paranaense de Incubadoras e Parques Tecnológicos (Reparte). “Nós dependemos de recursos de fundações e programas de fomento que são fundamentais, mas pontuais.” A concorrência, segundo Labiak, não está apenas em outros continentes: na hora de atrair empresas de tecnologia, Curitiba disputa espaço com pelo menos quatro capitais brasileiras: Florianópolis (SC), Porto Alegre (RS), Campinas (SP) e Recife (PE). “Recife montou um parque tecnológico onde há todo o tipo de incentivo. Florianópolis, que está aqui do lado e tem população bem menor, também têm atraído grandes empresas com incentivos públicos”, diz o presidente da Reparte. Quem pensa que basta estudar engenharia e ter um certo talento para criar, no fundo da garagem, algo das proporções da Microsoft, Apple, Google e YouTube está muito enganado, diz Labiak. Os recém-formados Maurício Imay e Fernando Mori, da GAP, empresa incubada na UTFPR, são um exemplo de que, sem incentivo, não há como prosperar na área. Apesar do sucesso da GAP, que em dois anos já tem uma razoável carteira de clientes, Imay e Mori tiveram que doar horas de trabalho para colocar a empresa em funcionamento. “O software que utilizamos hoje custa US$ 80 mil por ano. Só conseguimos abrir a empresa porque estamos dentro da universidade”, diz Mori. Para poder deixar a incubadora (as empresas podem ficar incubadas por até dois anos), Imay e Mori trabalharam por meio ano sem remuneração: toda a receita foi investida na compra do software. “Já temos o capital para comprar um software semelhante ao que usamos hoje, que custa US$ 10 mil por ano”, diz Mori. A incubadora da UTFPR, implantada em dezembro de 2002, tem hoje três empresas. Além do espaço físico, elas recebem auxílio para fazer cursos e têm facilidade de acesso a programas de incentivo como os do Sebrae, Finep e Fundação Araucária. As empresas incubadas na UTFPR já receberam cerca de R$ 150 mil cada uma em incentivos. No próximo ano, a incubadora da universidade terá nova sede, no campus avançado do Ecoville, e capacidade para incubar 10 empresas.

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