07 maio, 2014

QUASE FORA DA CAIXA

Vivemos no século das inovações – ou pelo menos das supostas inovações. Não há dúvidas de que, ao longo dos últimos dez anos, novos produtos e serviços modificaram completamente a dinâmica social da maior parte do mundo civilizado, em um movimento sem volta. Até que ponto essas mudanças foram positivas ou negativas, só o tempo dirá. Mas o fato é que poucos hoje conseguem escapar das inovações realizadas entre os anos 90 e a década passada.

Com todas as rápidas mudanças e quebra de paradigmas, “pensar fora da caixa” virou o lugar-comum entre empresas e empreendedores. A teórica obrigação de inovar e romper as barreiras da suposta “caixa” viraram uma condição indispensável para se fechar um negócio, conseguir um cliente ou mesmo vender um produto. Entretanto, às vezes parece que estamos saindo da tal caixa apenas para encontrar uma de tamanho maior do lado de fora. Se considerarmos a primeira caixa como sendo o universo do tradicional e estabelecido, temos de considerar a caixa seguinte como sendo o espaço das inovações autoproclamadas, as quais convenhamos, compreendem a maioria esmagadora dos produtos e serviços supostamente inovadores no mercado.

Contudo, ainda fora dessa segunda caixa podemos sim encontrar um ambiente inexplorado e sem limites – nele está a tal inovação disruptiva. Mas como podemos diferenciar as inovações da segunda caixa das inovações verdadeiras. Tentem imaginar: caixas dentro de outras caixas… e daí pensem em quantas camadas existem até que se chegue fora desse conjunto. Por vezes, a coisa pode parecer mais complicada e enganadora do que se supõe.

A primeira das caixas e a autoproclamação

Não é impressão – a caixa a que nos referimos existe mesmo – nela estão colocados todos os produtos, serviços e soluções que existem hoje no mundo, bem como o modo e método com que tudo é feito. Segundo alguns gurus, sempre que pensamos nas coisas fora desse limite, estamos inovando… mas isso não é necessariamente uma verdade. A caixa, como todo bom componente metafórico, está apenas em nossas mentes – e ela é somente grande o bastante para comportar aquilo que conhecemos do mundo, ou que nos demos ao trabalho de pesquisar. É perigoso basearmos nossos conceitos de inovação apenas em nossa visão restrita de mundo, mas infelizmente é o que muitos empreendedores fazem.

Ao autoproclamar seu produto como inovador, você provavelmente estará ignorando concorrentes e outros fatores de mercado que colocarão seu negócio em risco – mais do que simplesmente perseguir uma inovação falsa, você irá fazê-lo à margem de uma série de fatores desconhecidos.

E as “outras caixas”

Há outras caixas muitas vezes posicionadas ao redor daquela que você pretende, ou diz estar saindo. Elas são invólucros obscuros, que lhe dão a impressão de estar ao ar livre, mas mantém você preso a dados falsos, exagerados ou a uma situação de alienação e supervalorização do seu próprio produto. Nelas, além da falta de conhecimento e pesquisa das variáveis mercadológicas, o empreendedor está enclausurado por métricas chamadas “vaidosas” por muitos especialistas – aquelas métricas que somente produzem curvas ascendentes e, embora possam dar indicativos de crescimento, levam a conclusões falsas a respeito do sucesso de um negócio.

Um bom exemplo de métrica da vaidade é o número de downloads de um aplicativo. Esse índice jamais recua, uma vez que é cumulativo, porém não reflete até que ponto usuários estão realmente utilizando e aprovando seu produto. As consequências, em uma fase onde a geração de receita vira a prioridade, podem ser desastrosas.

Há ainda a caixa das inovações sem impacto – produtos realmente inovadores, mas que nunca são levados a sério pelos usuários, ou simplesmente resolvem problemas irrisórios demais para justificar sua adoção. Fascinado por sua suposta inovação, o empreendedor acaba preso dentro de uma caixa “invisível”, onde sempre se tem a impressão de estar do lado de fora, mas sem nunca colher os resultados de uma inovação realmente útil.

E quanto ao disruptivo?

Encontrar a inovação disruptiva não é tarefa fácil, mas identificá-la pode se revelar um trabalho ainda mais árduo – ele exige pesquisa, formação de benchmarks, avaliação detalhada de mercado e, principalmente, muito diálogo e proximidade com o usuário. Fora das caixas todas reside um usuário carente de soluções –  sua óptica é a única capaz de dizer com precisão ao empreendedor em que momento seu negócio ou inovação realmente se libertou de todos os invólucros.

Mais do que simplesmente inovar, fora da caixa o empreendedor poderá compartilhar da visão de seus clientes e usuários, e é nesse momento que realmente ocorre a inovação disruptiva – legítima e revolucionária, como ela deve ser.

Fonte: startupeando

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