23 novembro, 2006

TOQUES DE CELULAR AUMENTAM RENDA DE ÍNDIOS XAVANTE

Esqueça a imagem tradicional da economia de subsistência, formada por índios que caçam, pescam e plantam. Na aldeia São Pedro, em Mato Grosso do Sul, esse cenário ganhou ares de modernidade com um computador no qual índios Xavante produzem toques de celular, os ringtones. As canções típicas da tribo já estão disponíveis para clientes de diversas operadoras e têm como principal objetivo gerar renda para a comunidade. Clique aqui para ouvir as canções.

A iniciativa, parte de um projeto chamado de Cidade Móvel, foi desenvolvida em parceria entre a Cidade do Conhecimento (instituição da Universidade de São Paulo, USP) e o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI). “Utilizamos o conteúdo digital para gerar renda e ocupação às comunidades. Nesse processo, temos a preocupação de valorizar a cultura das comunidades”, afirmou Gilson Schwartz, responsável pelo projeto que teve investimento de R$ 930 mil do ITI.

Para valorizar a cultura, o projeto divulga músicas típicas, utilizadas como ringtones, e também fotos oferecidas como proteção de tela para celulares. Cada vez que o usuário baixa um desses arquivos, por cerca de R$ 3, os índios Xavante recebem uma porcentagem do lucro (confira as instruções em “como baixar nosso conteúdo”).

Além do material produzido pela tribo, o projeto conta com catálogos elaborados por comunidades da Praia da Pipa (RN) e por freqüentadores do Ponto de Cultura Flutuante, um barco com estúdio multimídia que circula entre Amapá, Pará e Amazonas. Como os arquivos acabam de ser lançados oficialmente, ainda não há previsão de quanto as comunidades devem faturar com a iniciativa. Geralmente, as operadoras ficam com cerca de 50% do valor do conteúdo oferecido.

Choque cultural

Schwartz admite que a experiência na aldeia São Pedro foi marcada pelo choque cultural: os participantes do projeto tinham de explicar àqueles que não usam celulares, muito menos computadores, como os ringtones poderiam ajudá-los financeiramente. “Levamos um telefone até a aldeia para mostrar exatamente como seria o projeto. Ensinamos os participantes das oficinas a produzir o conteúdo no computador e, como eles são curiosos, tiveram facilidade para aprender a mexer com os programas”, conta.

Cerca de 20 dos 300 membros da tribo assistiram às aulas, realizadas em 2005, durante três visitas dos paulistanos à aldeia. A tribo também escolheu um índio para liderar o projeto, que visitou a USP no ano passado.

A comunidade autora de seis ringtones tem um PC que funciona com gerador elétrico, pois não há luz no local – essa mesma fonte de energia é utilizada para a TV durante os jogos do Flamengo, time oficial da comunidade. Em breve, quando também tiverem acesso à internet, os índios poderão também acessar a biblioteca de sons, com arquivos gratuitos para aqueles que querem produzir conteúdo digital.

Do G1, em São Paulo

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