30 setembro, 2006

RAZÃO OU INTUIÇÃO?
Coloque-se na seguinte situação: meio-dia, você está saindo do trabalho para almoçar. Em qual desses lugares é mais fácil decidir o que comer: em um restaurante a la carte ou em um restaurante self-service? Voltaremos a essa pergunta no final do texto. Como processo, a tomada de decisão envolve diversas etapas entre as quais uma etapa crítica é o desenvolvimento de alternativas de decisão.

Afinal, sua decisão jamais será melhor do que a melhor alternativa que você tiver conseguido desenvolver. Nesse ponto, levantam-se duas importantes questões: A criatividade no desenvolvimento de alternativas e o próprio número de alternativas geradas. Vejamos um pouco mais sobre esses pontos.

Ao longo da vida, nossa capacidade criativa aumenta rapidamente durante a infância e depois passa a diminuir gradualmente. Por que isso ocorre? Basicamente, por que aprendemos para quê, quando e onde as coisas servem ou não servem. Ou seja, aprendemos a utilizar um lápis e tendemos a repetir esse uso continuamente. (uma forma criativa de fazer uso do lápis é como prendedor de cabelo, mas sendo esse já um uso tão comum que deixou de ser criativo).

Assim, aprendendo o que serve e o que não serve, limitamos nossa forma de ver as potencialidades de cada objetivo (em seu sentido mais amplo possível). Pensemos no caso descrito por Peter Senge no livro A Quinta Disciplina, onde dois grupos de crianças devem cumprir a mesma tarefa: Cortar as figuras de uma revista e prendê-las em um mural. Os dois grupos recebem revistas e tesouras, mas somente a um deles foi ensinado a como utilizar as tesouras. O resultado é que o grupo que aprendeu a utilizar a tesoura cortou as figuras com grande precisão, mas não conseguiu prendê-las no mural. O outro grupo cortou as figuras sem precisão, mas as prendeu no mural com as próprias tesouras.

No ambiente organizacional, além do aprendizado costumeiro às pessoas e organizações, há outros fatores que limitam o potencial criativo, normalmente expressos em frases habituais: “isso nunca funcionou aqui”, “isso foge às nossas políticas”, “temos de ter a resposta certa”, “precisamos ser práticos”, entre tantas outras.

Como, então, podemos melhorar nossa criatividade? Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que aquilo que deu certo no passado pode não mais funcionar hoje, já que todo o contexto pode ter mudado. Pessoas que são avessas ao risco tendem a repetir decisões antigas, limitando a criatividade. Em segundo lugar, é preciso “gerenciar” melhor o pensamento. Isso significa fugir do conforto das situações habituais, fazer novas perguntas e questionamentos, buscar novos significados, interpretações, aplicações e formas de ver, adotando o que Edward de Bono denomina pensamento lateral. Ou seja, buscar alternativas impensáveis para problemas comuns. Conseguimos pensar assim quando saímos da rotina e temos novas experiências – quer seja conhecendo novos lugares, lendo novos livros, vendo novos filmes ou mesmo fazendo simples mudanças em nosso cotidiano, como mudar o caminho que percorremos de casa para o trabalho.

Aumentando nossa criatividade, seremos capazes de desenvolver um número maior de alternativas para a decisão. Mas há nisso um paradoxo: quanto menos alternativas, mais chance de uma decisão pior, mas maior facilidade em decidir; quanto mais alternativas, mais chance de uma decisão melhor, mas maior dificuldade em decidir. Enfim, haveria um número ótimo de alternativas para a decisão? Certamente não há um número preciso, mas devemos considerar que temos limitações na quantidade de informações que conseguimos “gerenciar”. Diz-se que Napoleão, por exemplo, acreditava que não conseguíamos lidar com mais de sete informações ao mesmo tempo e organizou seu exército de tal modo que cada superior tinha no máximo sete subordinados diretos. Algo em torno de três a cinco alternativas é um bom objetivo a ter em mente, passando a totalidade das alternativas por várias “peneiras” antes da decisão propriamente dita.

Então, voltemos à questão dos restaurantes. Onde é mais fácil decidir? Em um restaurante a la carte, você precisará ter decidido que tipo de prato irá comer, se massa, carne, salada, etc. E, nesse caso, precisaremos lidar com o trade-off, já que ao escolhermos uma opção estaremos abandonando as outras. Em um restaurante self-service, lidamos menos com o trade-off, já que uma opção não exclui a(s) outra(s), nem precisamos ter definido exatamente o que comer. Mas, em compensação, muitas vezes acabamos por fazer uma combinação tão esquisita de pratos que certamente a decisão também pode ser questionada.

MATERIAL RETIRADO DO PROGRAMA “DECISÃO: RAZÃO OU INTUIÇÃO”

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